O ambiente e a atividade física

Traduzido para Português no âmbito da iniciativa PerMondo (traduções gratuitas das páginas web e documentos para associações sem fins lucrativos). Projeto dirigido por Mondo Agit. Tradutora: Julia Lucietto. Revisora: Lucilene da Silva Leite.

Autora(s):

Sara D’Haese Sara D’Haese
Estudante de Doutorado, orientada pelaProf.ª Dr.ªGreetCardon e Prof.ª Dr.ªIlse De Bourdeaudhuij, da Universidade de Ghent.
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Greet Cardon Greet Cardon
Professora Titular do Departamento de Ciências do Esporte e Movimento da Universidade de Ghent na área de atividade física e saúde.
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Benedicte Deforche Benedicte Deforche
Professora Titular deaPromoção da Saúde da Universidade de Ghent (Faculdade de Medicina e Ciências da Saúde).
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Atébem recentemente , as pesquisassobre obesidade se concentravam principalmente nos aspectos biológicos e comportamentais. No entanto, há um consenso crescente entre os pesquisadores que o ambiente físico e social também pode desempenhar um papel importante. Certos aspectos do ambiente podem promover ou desencorajar a atividade física e, portanto,terem influência sobre o peso corporal das crianças. O objetivo deste capítulo é fornecer uma visão geral do conhecimento atual sobre a relação entre o ambiente físico comunitário e a atividade física nas crianças.

Modelo ecológico da atividade física

Tradicionalmente, intervenções promovem a atividade física focadas em alterar os fatores pessoais e psicossociais (por exemplo, o conhecimento dos benefícios à saúde). No entanto, ao focar em fatores pessoais e psicossociais, apenas pequenos grupos de pessoas são atingidos. Enquanto que intervir no ambiente pode trazer resultados positivos em grandes grupos de pessoas que vivem no mesmo ambiente físico.

Assim sendo, modelos ecológicos de comportamento de saúde tem ganhado crescente atenção. Os modelos ecológicos postulam que vários níveis de influência determinam o comportamento individual (Figura 1). Os modelos ecológicos incluem fatores no nível intrapessoal (por exemplo, psicológico), interpessoal (por exemplo, apoio social, modelagem), organizacional (por exemplo, clubes esportivos), da comunidade (por exemplo, escolas), ambiente físico (por exemplo, bairro) e político (por exemplo, lei) [1]. De acordo com os modelos ecológicos, são esperados maiores níveis de atividade física quando os ambientes e as políticas apoiam à atividade física, quando as normas sociais e o apoio social para o engajamento em atividades físicas são fortes e quando os indivíduos estão motivados e educados para serem fisicamente ativos [1]. Atualmenteos modelos ecológicos são muito usados para obter informações sobre os aspectos que determinam os níveis de atividade física. Os aspectos que estão relacionados à atividade física são chamados de “correlatos”.

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Figura 1: : Modelo ecológico da atividade física. De Sallis J.F., Cervero R.B., Ascher W., Henderson K.A., Kraft M.K., & Kerr J. (2006). An ecological approach to creating active living communities. AnnualReviewofPublic Health, 27 297-322.[53]

 

 

Neste capítulo, vamos nos concentrar em como o ambiente físico comunitário se correlaciona com a atividade física em crianças. O ambiente físico comunitário é definido como “as características objetivas percebidas no contexto físico no qual as crianças vivem (por exemplo, casa, bairro, escola), incluindo os aspectos do modelo urbano (por exemplo, presença e estrutura de calçadas), a densidade e velocidade do tráfego, a distância e a concepção dos espaços próprios para a realização de atividades físicas (por exemplo, parquinhos, parques e pátios de escolas), a criminalidade e a segurança” [2].

 

Medição da atividade física das crianças e da atividade física do ambiente físico comunitário

A atividade física das crianças pode ser medida de várias maneiras [3]. Ela pode ser medida objetivamente (por exemplo, por monitores de atividade, observação direta, monitoramento da frequência cardíaca) ou subjetivamente (por exemplo, por questionários de autoavaliação, registros oudiários de atividades) [4].

Os monitores de atividade mais utilizados na pesquisa de atividade física são os acelerômetros. Os acelerômetros medem a aceleração (isto é, a variação da velocidade ao longo do tempo) do corpo ou de segmentos corporais [5]. Eles são dispositivos leves e pequenos capazes de coletar dados por semanas [6] e normalmente são usados no quadril durante as horas em que se está acordado[7].

Os acelerômetros conseguem capturar de modo objetivo a intensidade das atividades físicas. As atividades físicas podem ser divididas em atividades de intensidade leve (por exemplo, andar de bicicleta a menos de 8 Km/h), intensidade moderada (por exemplo, caminhada, hidroginástica) ou intensidade vigorosa (por exemplo, corrida) [8,9].

Outra maneira de determinar a atividade física das crianças é o uso de métodos de medição subjetivos, como questionários de atividade física ou diários de bordo para as crianças e/ou seus pais. O uso de questionários de atividade física possibilita a obtenção de mais informações sobre o domínio e o contexto onde as atividades físicas das crianças ocorreram [10]. Uma possível desvantagem do uso de questionários é o registro errôneo das atividades físicas devido à conveniência social ou esquecimento [11,12].

O ambiente físico comunitário

O ambiente físico comunitário pode ser avaliado utilizando diferentes métodosobjetivos e subjetivos. Podem ser feitasverificações ou observações da comunidade por especialistas ou Sistemas de Informações Geográficas (SIG) para determinar o ambiente de forma objetiva. A verificação da comunidade pode ser realizada pessoalmente ou usando o Google Streetview [13-15].SIG são “ferramentas informáticas utilizadas paracaptura, armazenamento, manipulação, análise, modelagem, recuperação e apresentação gráfica de informações espacialmente mapeadas” [16]. Um modelo SIG é constituído por várias camadas com informações diferentes. Por exemplo, quando uma camada com bairros diferentes de uma cidade específica é combinada com uma camada que contém a rede de ruas daquela cidade, é possível calcular a conectividade das ruasde cada bairro daquela cidade.

Além de determinar o ambiente de forma objetiva, também é possível determiná-lo de forma subjetiva. As percepções ambientais subjetivas dos pais, bem como as percepções das crianças, são utilizadas com mais frequência nas pesquisas de investigação do ambiente físico. A “Escala de mobilidade ativa em ambiente comunitário” (NEWS,do inglêsNeighborhood Environmental WalkabilityScale) é o questionário mais utilizado internacionalmente para determinar as percepções do ambiente físico comunitário [17,18].

Os seguintes aspectos do ambiente físico comunitário foram cuidadosamente investigados em relação à atividade física das crianças por meio de questionários, verificações ou SIG.

  • A diversidade de uso do terrenore fere-se ao “nível de integraçãoem uma mesma área, de tipos de usos diferentes para o espaço físico, incluindo residencial, comercial, institucional, industrial e público” [19]. Um bairro com uma mistura elevada de diferentes usos de terreno(por exemplo, escolas, comércios, casas, instalações esportivas) é um bairro com alta diversidade de uso do terreno.
  • A conectividade das ruas refere-se ao “direcionamento ou facilidade de transitar entre dois pontos, e está diretamente relacionado às características dos projetos das ruas” [19]. Um bairro com alta conectividade de ruas é caracterizado por muitas ruas interligadas.
  • A densidade residencial refere-se ao “número de unidades residenciais por unidade de território” [19]. Um bairro com uma grande quantidade de edifícios residenciais em uma pequena área é um bairro com uma alta densidade residencial.
  • A mobilidade ativa, a diversidade de uso do terreno, a conectividade das ruas e a densidade residencial são, muitas vezes, combinadas em um índice de mobilidade ativa. Um bairro com elevada mobilidade ativa é caracterizado por uma alta diversidade de uso do terreno, alta conectividade de ruas e alta densidade residencial (Figura 2 [19]).
  • A acessibilidade refere-se à facilidade com que os lugares ou atividades podem ser alcançados eao sistema de transporte e uso do terreno [20]. Por exemplo, facilidade de caminhar até um ponto de ônibus.
  • As instalações para caminhada e ciclismo referem-se à presença e características de instalações para caminhada e ciclismo. Por exemplo, presença de calçadas, faixas de pedestres, ciclovias.
  • A estética refere-se ao valor estético do bairro e pode incluir os aspectos de beleza, arquitetura, manutenção do ambiente, poluição, elementos naturais. Por exemplo, uma linda paisagem, grafites.
  • A segurança é avaliada principalmente como a segurança no trânsito (por exemplo, presença de semáforos) ou a segurança contra o crime (por exemplo, ausência de riscos desconhecidos).
  • As instalações de recreação referem-se à qualidade e presença de, por exemplo, parques e parquinhos.
  • A urbanização refere-se ao grau de urbanização em um bairro. Por exemplo, área rural versus área urbana.

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Figura 2: Um bairro com elevada mobilidade ativa (canto inferior esquerdo) e um bairro com baixa mobilidade ativa (canto superior direito). De Saelens BE, Sallis JF, Frank LD. Correlatos ambientais de caminhada e ciclismo: achados da literatura sobre o transporte, design urbano e planejamento. AnnalsofBehavioral Medicine 2003; 25: 80- 91.[19]

 

 

A tecnologia mais avançada utilizada recentemente nas pesquisas de atividade física é o sistema de posicionamento global (GPS) [21]. Ao usar o GPS em combinação com acelerômetros e SIG, a atividade física das crianças pode ser localizada de forma exata no bairro. O GPS também pode ser combinado com o SIG, tornando possível determinar as características ambientais das atividades das crianças.

Diferentes camposda atividade física das crianças foram investigados em relação aos diferentes aspectos do ambiente físico comunitário. A relação entre o ambiente físico comunitário e a atividade física das crianças pode variar de acordo com o método de medição utilizado para determinar a atividade física das crianças e o ambiente físico [22]. Isso dificulta o surgimento de conclusõesunívocas sobre a relação entre o ambiente físico comunitário e a atividade física das crianças. Um estudo recente constatou que as associações mais consistentes foram encontradas entre os atributos ambientais medidos objetivamente e a atividade física autoavaliada [22].

 

Relação direta entre o ambiente físico comunitário e a atividade física das crianças

A relação entre o ambiente físico comunitário e atividade física pode variar de acordo com o campo da atividade (por exemplo, transporte ativo, atividade física geral…) [23,24]. O ambiente comunitário pode ter um impacto diferente em campos distintos da atividade física [2,25]. Por exemplo, um bairro altamente conectado pode ser benéfico para o transporte a pé das crianças, mas prejudicial para as brincadeiras nas ruas. Portanto, a relação direta entre o ambiente físico comunitário e a atividade física das crianças é descrita separadamente para os diferentes campos de atividade: transporte ativo para a escola, caminhada e ciclismo durante os momentos d lazer e atividade física em geral, e atividade física de intensidade moderada à vigorosa.

Transporte ativo para a escola

A distância da casa para a escola das crianças parece ser um dos correlatos mais importantes do transporte ativo para a escola. Crianças que moram mais longe da escola são menos propensas a ir para a escola a pé ou de bicicleta [24,26,27]. Uma distância viável para as crianças irem para a escola a pé é de 1,5 km, e uma distância viável para irem para a escola de bicicleta é de 3,0 km [26].

Em uma revisão recente (D’Haese et al., em revisão), foram encontradas relações significativas entre o ambiente físico comunitário e o transporte ativo das crianças para a escola. A mobilidade ativa e a acessibilidade do bairro estavam relacionadas positivamente ao transporte ativo das crianças à escola. Evidências para uma possível associação positiva ao transporte ativo para a escola foram encontradas para as medidas de densidade (por exemplo, densidade residencial, densidade populacional, densidade de construções), faixa de pedestres e segurança geral (por exemplo, sentir-se seguro para andar na rua). A estética, segurança contra o crime, segurança de tráfego e instalações de recreação foram amplamente investigadas em estudos diferentes, mas, em geral, essas variáveis não foram relacionadas ao transporte ativo das crianças para a escola (D’Haese et al., em revisão). Aparentemente, a mobilidade ativa, a distância para a escola e a acessibilidade são os correlatos ambientais físicos mais importantes do transporte ativo das crianças para a escola.

Caminhada e ciclismo durante os momentos de lazer

Embora as variáveis ambientais físicas tenham sido associadas positivamente ao transporte ativo das crianças para a escola, elas não estavam relacionadas à caminhada e ciclismo durante os momentos de lazer (D’Haese et al., em revisão). É possível que devido ao fato das crianças irem para a escola a pé ou de bicicleta com mais frequência do que andam a pé ou de bicicleta durante as horas derecreação[28], e também que as crianças que andam a pé ou de bicicleta durante as horas de lazer estão, na sua maioria, acompanhadas pelos pais ou amigos, tendooutras influências (por exemplo, apoio dos pais, acesso a um veículo ou aindaamigos que moram no bairro) mais importantes para caminhadas e ciclismo durante os momentos de recreação do que o ambiente físico (D’Haese et al., em revisão).

Atividade física geral e atividade física de intensidade moderada à vigorosa

Se o ambiente físico não está relacionado à atividade física total ou à atividade física geral de intensidade moderada à vigorosa nas crianças (D’Haese et al., em revisão), então supõe-se que outras influências além do ambiente físico sejam mais importantes para explicar a atividade física total e a atividade física de intensidade moderada à vigorosa das crianças. Por exemplo, é possível que, quando as crianças têm um quintal grande e espaço suficiente para brincar em casa, seu ambiente comunitário seja menos importante [29].

Até agora, foram investigados principalmente os fatores ambientais em grande escalado bairro em relação à atividade física das crianças. No entanto, esses fatores em grande escala são, muitas vezes, difíceis de alterar em bairros já existentes, enquanto que os fatores ambientais em pequena escala (por exemplo, a uniformidade da calçada, a separação entre a ciclovia e o tráfego de automóveis, o limite de velocidade) podem ser mais fáceis de alterar. Portanto, uma futura pesquisa também deve incluir esses fatores ambientais em pequena escala.

 

As relações entre o ambiente físico comunitário e a atividade física diferem entre os continentes

A relação entre o ambiente físico comunitário e a atividade física nas crianças difere entre os continentes. É possível que devido às diferenças do ambiente físico comunitário entre os continentes e países , no uso da terreno e nas condiçõesde trânsito e de criminalidade, e à diferença nos hábitosde atividade física em todos os continentes e países (D’Haese et al., em revisão).

Relações entre o ambiente físico comunitário e a atividade física nas crianças foram encontradas principalmente na América do Norte e na Austrália. Na Europa e na Ásia foram encontradas poucas relações entre o ambiente físico comunitário e a atividade física nas crianças. Na África e na América do Sul, a relação entre o ambiente físico e a atividade física nas crianças ainda é pouco estudada (D’Haese et al., em revisão).

A segurança geral, , a segurança no tráfego, a segurança contra o crime e os locais de recreação foram mais frequentemente relacionados à caminhada e ciclismo durante o lazer e à atividade física total/atividade física de intensidade moderada à vigorosa nas crianças na América do Norte e na Austrália do que na Europa (D’Haese et al., em revisão). É possível que devido ao fato de ser menos seguro caminhar ou andar de bicicleta nos EUA e na Austrália [30]. Como os bairros da Europa talvez sejam diferentes dos bairros da América do Norte ou da Austrália [31], é possível que as crianças europeias sejam mais ativas em casa ou em ruas sem saída , enquanto as crianças australianas ou norte-americanas sejam mais ativas em locais próprios para recreação.

 

Relação indireta entre o ambiente físico comunitário e a atividade física das crianças

Além da relação direta investigada entre o ambiente físico comunitário e a atividade física das crianças, Kremers et al. levantaram a hipótese, naestruturade pesquisa ambiental para a prevenção do ganho de peso (EnRG, Environmental Research framework for weightGainprevention), que o ambiente físico também está indiretamente relacionado à atividade física das crianças [32] (Figura 3). De acordo com Kremers et al., é possível que o ambiente físico influencie os fatores cognitivos (atitude, critérios subjetivos, controle comportamental percebido e intenção em relação à atividade física) que, por sua vez, podem influenciar a atividade física. Além disso, também é possível que essa relação direta entre o ambiente físico e a atividade física difiram nos subgrupos com características diferentes (por exemplo, estados socioeconômicos diferentes).

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Figura 3: Estruturade pesquisa ambiental para a prevenção do ganho de peso (EnRG).DeKremers SP, de Bruijn GJ, Visscher TL, van MW, de Vries NK, Brug J: Environmental influences on energy balance- related behaviors: a dual-process view. InternationalJournalofBehavioralNutritionandPhysicalActivity 2006, 3: 9. [32]

 

 

Como exemplo podemos citar um estudo belga com adolescentes mais velhos, onde descobriu-se que a segurança e o acesso a equipamentos e serviços só foram associados ao transporte ativo entre os adolescentes com baixa autoeficácia [33]. Outro estudo belga descobriu que, em bairros de baixa renda, a mobilidade ativa foi relacionada positivamente à caminhada das crianças como transporte durante o tempo de lazer e foi relacionada negativamente ao esporte das crianças durante o tempo de lazer; enquanto que, em bairros de alta renda, a mobilidade ativa não foi relacionada à atividade física das crianças (D’Haese et al., apresentado).

Em um estudo australiano, descobriu-se que a atividade física de intensidade moderada à vigorosa dos pais foi associada positivamente à atividade física de intensidade moderada à vigorosa das crianças, mas apenas entre as crianças cujos pais relataram uma alta presença em espaços esportivos. A presença de regras de atividade física mais restritivas (por exemplo, “Meu filho deve ser supervisionado ao brincar na rua”) foi associada negativamente à atividade física de intensidade moderada à vigorosa das crianças nos bairros com alta periculosidade [34].

Esses resultados exibem a importância de orientar as intervenções de atividade física a subgrupos específicos, pois fatores ambientais físicos distintospodem ter diferentes influências em relaçãoà atividade física de subgrupos diferentes.

Além disso, a possibilidade das crianças de andar a pé ou de bicicleta pelo bairro sem o acompanhamento de adultos (= mobilidade independente) pode influenciar indiretamente a atividade física. No Reino Unido, a percepção dos pais da ausência de espaços apropriados para a atividade física, a segurança, o tráfego, a proximidade dos amigos e crianças mais velhas determinam a possibilidade das crianças de andarema pé ou de bicicleta sem a supervisão de um adulto [35]. Em um estudo de revisão, descobriu-se que a mobilidade independente das crianças estava relacionada positivamente àsatividades físicas [36]. Em um estudo belga, a mobilidade independente mediou a relação entre a percepção do bairro pelos pais e a atividade física de adolescentes do sexo feminino (De Meester et al., em revisão).

 

Intervenções no bairro podem afetar faixas etárias diferentes de formas diferentes

Pessoas de faixas etárias diferentes vivem no mesmo ambiente comunitário. Como as intervenções no ambiente físico comunitário afetam todos os habitantes de um bairro, intervir no ambiente físico pode ter efeitos opostos sobre a atividade física das crianças e adultos.

Por exemplo, estudos realizados com adultos demonstraram consistentemente que uma maior conectividade de ruas [37,38] e de mobilidade ativa [39] foram associadas a maior frequência de atividades físicas. Por outro lado, foi demonstrado, em crianças, que a conectividade das ruas foi relacionada negativamente à atividade física no bairro [40]. Como um bairro com baixa conectividade é caracterizado por poucos cruzamentos e muitas ruas sem saída, que reduzem o volume de tráfego, isso resulta em ruas mais seguras para brincar. Portanto, faz sentido que bairros menos conectados sejam mais propensos à prática de atividade física pelas crianças.

Na Bélgica, um estudo transversal foi realizado para investigar a relação entre a mobilidade ativa medida objetivamente e a atividade física nas crianças (10 a 12 anos) e adultos (20 a 65 anos). Nas crianças belgas, apenas em bairros de baixa renda, a maior mobilidade ativa estava relacionada à maior caminhada relacionada ao transporte durante o lazer e à menor prática de esportes durante o lazer. Em bairros de alta renda, a mobilidade ativa não estava relacionada à atividade física das crianças (D’Haese et al. apresentado). Nos adultos, a mobilidade ativa medida objetivamente foi associada positivamente à atividade física de intensidade moderada à vigorosa com base no acelerômetro, caminhada e ciclismo relacionados ao transporte e caminhada recreativa em ambos os bairros de baixa e alta renda [41]. Portanto, o maior desafio para os urbanistas, para os criadores de intervenções e para os políticosé desenvolver bairros propensos à atividade física para faixas etárias diferentes. Uma possível solução é criar bairros com uma baixa conectividade para o transporte motorizado, mas com uma alta conectividade para a caminhada e ciclismo, fornecendo muitas calçadas e ciclovias seguras proibidas para o transporte motorizado.

 

Intervenções no ambiente físico comunitário que promovem a atividade física das crianças

As intervenções nos ambientesfísicoscomunitáriossão geralmente realizadas e conduzidas pelas câmaras municipais. Isso dificulta a avaliação dessas intervenções pelos pesquisadores. Estudos que investigam o efeito das alterações no ambiente comunitário sobre a atividade física das crianças são escassos. Por outro lado, as intervenções no ambiente escolar são estudadas com mais frequência [42-46]. Até agora, a maioria dos estudos de intervenção no bairro tem como foco o aumento da disponibilidade dos espaços recreacionais(por exemplo, parques e parquinhos) para as crianças. Um estudo australiano investigou os efeitos de melhorias nos parques sobre as atividades nos parques [47]. As melhorias nos parques (incluindo o acréscimo de calçada, churrasqueira, parquinhos,etc) foram associadas positivamente ao número de usuários do parque, ao número de pessoas observadas caminhando e realizando atividades de intensidade vigorosa [47]. Também nos EUA, as reformasnos parques pareceram aumentar a visitação e a atividade física em geral em faixas etárias diferentes [48]. Em um estudo norte-americano, uma ciclovia foi adaptada em um bairro para aumentar a conectividade para os pedestres [49]. Este estudo mostrou que o aumento da conectividade dos pedestres conduziu a maiores níveis de atividade física no bairro [49]. Nos EUA, pátios escolares foram disponibilizados após o horário escolar nos dias de semana e fins de semana como locais seguros para o lazerdas crianças, e isso levou ao aumento da atividade física das crianças [50]. Também nos EUA, foi avaliado o impacto das reformasem parquinhosque estavam disponíveis para as crianças fora do horário escolar sobre sua atividade física. Descobriu-se que as crianças eram mais ativas nas escolas com pátios reformadosem comparação com os pátios das demais escolas[51,52].

 

Conclusão

Com base em pesquisas anteriores, é sabido que a atividade física pode ter influência positiva sobre o peso das crianças. O ambiente físico pode influenciar a atividade física das crianças que, por sua vez, pode ter influência positiva sobre o peso delas. Os urbanistas, os políticos e os criadores de intervenções devem se concentrar na criação de ambientes favoráveis à atividade física para todas as faixas etárias. Outras pesquisas são necessárias para determinar quais intervenções no ambiente comunitário podem ser eficazes para aumentar a atividade física das crianças.

 

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Ref Type: Report

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