Prevalências e Tendências ao Redor do Mundo

Traduzido para Português no âmbito da iniciativa PerMondo (traduções gratuitas das páginas web e documentos para associações sem fins lucrativos). Projeto dirigido por Mondo Agit. Tradutor: Heitor Katlauskas Muraro. Revisor: Paulo Paz.

Autora(s):

 Tim Lobstein Tim Lobstein
Federação Mundial de Obesidade (conhecida anteriormente como
Associação Internacional para o Estudo da Obesidade)
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Introdução

Embora existam diversos métodos e abordagens distintas na determinação da obesidade e do sobrepeso nas crianças, todas as pesquisas disponíveis possuem uma característica em comum: todas apresentam um aumento rápido e significativo no número de crianças afetadas, na maioria das regiões do mundo. Nas economias mais desenvolvidas a prevalência dos níveis de obesidade infantil dobraram e em alguns casos triplicaram, do fim dos anos 70 até o fim do século, [1] e sendo mais alto entre as famílias de baixa renda e alguns grupos étnicos minoritários. Nas economias menos desenvolvidas os níveis de obesidade infantil também aumentaram rapidamente, principalmente desde os anos 1990, e em especial em áreas urbanas e entre as crianças de famílias em melhor situação [2].

 

As definições do sobrepeso e da obesidade infantis na pesquisa

Quanto às crianças mais novas, é normal utilizar ‘peso poraltura’ ao invés do IMC para indicar a situação nutricional. A prática se baseia nas definições existentes utilizadas para avaliar o peso insuficiente e o crescimento, onde o peso de acordo com a idade, a altura de acordo com a idade e a relação de peso pela altura são comparadas com as curvas de crescimento padrões de uma população de referência.

Nos últimos anos, o IMC vem sendo usado para validar, numa avaliação indireta, da medida de adiposidade dos adultos, e cada vez mais aceito como medida de adiposidade nas crianças mais velhas e nos adolescentes para a pesquisa [1], [3], e esse último nos levou a várias abordagens na escolha dos valores limites adequados do IMC levando-se em conta as variações no IMC durante o crescimento normal. Diversos gráficos de IMC por idade foram criados, tais como aqueles usados pelo US National Centre for Health Statistics, ou aqueles usados pelo Departmento Britânico de Saúde, ou aqueles criados por outras instâncias nacionais. Tais curvas nacionais de referência estabelecem um conjunto de limites para definir o sobrepeso e a obesidade entre as crianças de cada gênero, em todas as idades.

Deve-se notar que as curvas de referência para definir o sobrepeso e a obesidade podem auxiliar na comparação de grupos populacionais distintos e no acompanhamento de mudanças na população ao longo do tempo, mas quanto à avaliação clínica mais cuidadosa de cada criança se faz necessária para acompanhar as tendências individuais de crescimento e garantir que, por exemplo, um IMC alto não se deve à massa muscular adicional ou ao crescimento linear atrofiado.

As dificuldades em comparar as pesquisas que usavam as curvas de referências nacionais distintas nos levam à definição de um grupo de especialistas, organizado pela InternationalObesityTaskForce (IOTF), no qual sugere um limite de IMC com base no agrupamento dos dados coletados no Brasil, na Grã-Bretanha, em Hong Kong, em Cingapura, na Holanda, e nos EUA. O grupo definiu que o sobrepeso e a obesidade infantil seriam definidos de acordo com as curvas de percentis de IMC que passaram pelos pontos de corte de IMC, entre 25 e 30 aos 18 anos de idade. O IMC por conjunto etário e específico de gênero resultante para crianças foi publicado em 2000 [4]. Uma versão mais detalhada dessa abordagem, estendendo os limites de corte para abrangerem os IMC 35 e 40 aos 18 anos, em intervalos mensais entre a idade de 2 até 18 anos fora publicado em 2015 [5].

Embora a Organização Mundial de Saúde (OMS) recomendara anteriormente o uso de um conjunto de valores limites baseados em uma população de referência produzidos nos EUA, esta revisou recentemente suas recomendações. Os dados norte-americanos contavam com um grande número de crianças alimentadas com uma fórmula de padrões de crescimento diferentes de crianças amamentadas, e possivelmente subestimar a verdadeira extensão do sobrepeso em crianças mais jovens. A OMS publicou posteriormente um conjunto de gráficos padrões de crescimento com base nos dados dos bebês e das crianças com idades entre 0 a 5 anos e estenderam essas curvas para estabelecerem estatisticamente um conjunto de gráficos de referência para as crianças entre os 5 e os 19 anos de idade [6]. Esses padrões e gráficos de referência da OMS são discutidos mais detalhadamente no capítulo deste livro por De Onis.

Como consequência dessas abordagens diferentes, deve-se tomar cuidado ao consultar os dados publicados preponderantes de sobrepeso e obesidade, e os níveis de prevalência com base em um conjunto de curvas limite ou de referência não devem ser comparados diretamente com aqueles baseados em outros. Além disso, o uso dos limites podem diferir, com alguns relatórios dando o valor da prevalência para todas as crianças com ‘sobrepeso’, incluindo aquelas que estão obesas, ao passo que outras possam apresentar o nível de prevalência do sobrepeso com exceção dos obesos. Os leitores devem notar também os níveis norte-americanos de prevalência que às vezes se referem ‘aos que correm o risco de sobrepeso’ e ‘aqueles com sobrepeso’ para as duas camadas superiores de adiposidade, e às vezes ao ‘sobrepeso’ e ‘obeso’.

Além disso, a metodologia da pesquisa precisa ser cuidadosamente analisada. Uma das principais fontes de imprecisão é o uso de alturas e pesos informados pelas crianças ou pelos pais, ao invés de utilizar as medidas tiradas diretamente pelo profissional de saúde. As diferenças podem ser bem grandes. A figura 1 apresenta estimativas da prevalência de sobrepeso (utilizando as definições da IOTF) baseados nos dados autodeclarados e nos mensurados diretamente.

 

Fig 1: Comparações dos dados mensurados e os autodeclarados avaliam o sobrepeso e a obesidade nos países selecionados

O critério de sobrepeso definido pela IOTF (incluindo os obesos).

OECD 2013 [26]

 

 

Neste capítulo, salvo disposto em contrário aos níveis de prevalência, são baseados nas alturas, e pesos, e sobrepeso e obesidade medidos foram definidos pelo esquema internacional de classificação da IOTF

 

Níveis mundiais de prevalência

O cálculo da prevalência mundial de sobrepeso e de obesidade entre as crianças em idade escolar foi feito pela primeira vez em 2004, quando concluímos que aproximadamente 10% das crianças em idade escolar (com idades entre 5 e 17 anos) estavam acima do peso, cerca de um quarto dessas crianças eram obesas (2% a 3%das crianças globalmente) [1]. Essa média global abrange uma ampla gama de níveis de prevalência nas diferentes regiões e países, com a importância do sobrepeso na África e na Ásia com médias bem abaixo de 5% e nas Américas e na Europa acima de 20%. Os cálculos mais recentes mostram poucas mudanças gerais, mas enquanto os níveis de prevalência do sobrepeso alcançam a estabilidade ou até mesmo um leve declínio nos países com rendas maiores, esta cresceu significantemente nos países em desenvolvimento emergentes (veja a Tabela 1).

 

Tabela 1: Prevalência estimada do excesso de peso corporal nas crianças em idade escolar nas regiões mundiais, 2010-2013

Porcentagem de crianças entre 5 e 17 anos
Regiões definidas de acordo com a Organização Mundial de Saúde
As definições de sobrepeso e obesidade de acordo com a IOTF

Região*
Obeso
Acima do peso
(incluindo obesos)
Homens Mulheres Homens Mulheres
Américas 9.6 9.3 27.9 26.3
Europa e antiga União Soviética 4.6 4.2 20.4 19.4
Oriente Médio e Norte da África 6.4 6.7 17.0 18.8
Sudeste asiático (inclusive a Índia) 2.5 0.5 12.6 7.1
Oeste do Pacífico (inclusive a China) 2.0 1.2 8.0 6.2
Àfrica (subsaariana) 1.0 1.1 3.8 5.7
Estimativa global 3.8 3.0 14.0 12.1

Fonte: IASO 2013 [9]

 

Américas

Dados nacionais abrangentes e comparáveis sobre tendências na prevalência da obesidade estão disponíveis nos EUA, onde as pesquisas foram realizadas desde os anos 1960. Dados de 2009-2010 mostram que 34% das crianças com idades entre 5 e 17 anos estavam com sobrepeso (inclusive as obesas) [7]. No Canadá, 26% das crianças mais novas e 29% das crianças mais velhas tinham sobrepeso em uma pesquisa de 2004, praticamente o dobro dos níveis de prevalência detectados entre as crianças 25 anos antes [8].

Os países da América Central e do Sul apresentam taxas rapidamente crescentes de obesidade [9]. No México, uma pesquisa com as crianças com idades entre 11 e 14 anos entre 1989 e 1999 encontrou 33% tanto de homens como de mulheres que estavam com sobrepeso ou obesos (utilizando as definições norte-americanas). Os níveis estavam mais altos entre as famílias mais abastadas e nas áreas urbanas. A prevalência de sobrepeso entre as crianças em idade escolar no Brasil era de 14% em 1997 (comparado com apenas 4% em 1974). No Chile em 2000 a prevalência de sobrepeso entre os estudantes era de 26% e na Argentina em 2005 era de 30%.

Europa

A mais alta prevalência dos níveis de obesidade infantil nesta regiãoé encontrada em diversos países do sul da Europa. A ChildObesitySurveillanceInitiative iniciou uma metodologia consistente de supervisão em diversos países europeus, que mostra a prevalência de sobrepeso (incluindo a obesidade) entre as crianças com idades entre 7 e 8 anos variam de 15% na Noruega a 36% na Itália [10].

 

Tabela 2. A obesidade infantil em alguns países europeus 2009-2010

Crianças com idade entre 7 e 8 anos, critérios da IOTF

Obeso
Acima do peso (incluindo obesos
Homem Mulher Homem Mulher
Noruega 3.0 4.0 13.5 17.4
Bélgica 3.9 4.9 14.5 18.4
Letônia 4.5 3.1 15.3 15.1
Rep. Tcheca 3.8 4.0 15.8 14.7
Suécia 2.5 3.5 16.0 17.8
Lituânia 5.1 5.1 16.1 16.2
Bulgária 6.6 9.0 20.1 24.2
Irlanda 6.3 5.6 21.1 22.8
Eslovênia 7.8 6.7 24.7 23.8
Portugal 7.9 9.3 26.8 28.5
Itália 13.6 11.8 37.2 34.7

Fonte: Wijnhoven et al 2012 [10]

 

Um gradiente acentuado entre o norte e o sul na Europa fora encontrado nesta e em outras pesquisas, e as razões disto não estão claras. Embora fatores genéticos possam desempenhar um papel, todos os países da região apresentaram um aumento acentuado da prevalência das décadas recentes indicando que todas as crianças estão expostas a algum grau de risco. A renda do lar ou da família da criança pode ser uma variável importante, possivelmente mediada pelos fatores alimentares relativos à renda tais como a alimentação materna durante a gravidez, ou a amamentação tanto no peito ou com o uso de mamadeira durante a infância, assim como a qualidade da alimentação durante a infância. O grau da desigualdade social também pode desempenhar um papel importante (veja abaixo).

Norte da África, Leste do Mediterrâneo e o Oriente Médio

Diversos países nesta região aparentam possuir altos níveis de obesidade infantil. A tabela abaixo (Tabela 3) tem como fonte as alturas e pesos autodeclarados na pesquisa Global SchoolbasedStudent Health Survey, com crianças entre 13 e 15 anos [11].

 

Tabela 3. O sobrepeso e a obesidade autodeclaradas pelas crianças em alguns países do Norte da África, Leste do Mediterrâneo e Oriente Médio, 2007-2012

Crianças com idade entre 13 e 15 anos, critérios da IOTF

Obeso
Acima do peso inclusive obesos
Paquistão 2009 1 6.5
Iêmen 2008 4.4 11.8
Sudão 2012 3.6 11.4
Marrocos 2010 2.5 14.1
Jibuti 2007 4.6 16.3
Jordânia 2007 5 21.2
Síria 2010 5.8 21.7
Palestina 2010 6.1 22.4
Líbano 2011 6.7 24.1
Iraque 2012 7.9 25.3
Líbia 2007 8.2 26
Egito 2011 7 32.5
EAU 2010 14.4 38.4
Kuwait 2011 22.7 51.4

Fonte: Global School-based Student Health Survey [11]

 

O problema não está restrito aos adolescentes. Uma pesquisa com quase 20.000 crianças na Arábia Saudita em 2005 apurou que 12% das crianças de cinco anos estão acima do peso, subindo para mais de 27% aos 10 anos, e permanecem neste nível pela adolescência. Na província de Birjand, no Irã, 18% das crianças do jardim de infância com idade entre 2,0 e 4,9 anos estavam com sobrepeso ou obesas [12]. Na idade de 10 anos, 39% dos meninos do Kuwait estavam com sobrepeso ou obesos, [13] embora em Marrocos o valor é inferior a 9% [14].

Ásia e Pacífico

Nos países mais desenvolvidos economicamente os níveis de prevalência para as crianças em idade pré-escolar e escolar são substancialmente maiores. Entre as crianças e os adolescentes australianos com idade entre 7 e 15 anos, a prevalência de sobrepeso (incluindo a obesidade) dobrou de 11% para 21% entre os anos de 1985 e 1995, e alcançou 27% em 2007-2008 [15].

 

Tabela 4. A prevalência do sobrepeso infantil em alguns países da Ásia e da Australásia, 2007-2012

Sobrepeso pelos critérios da IOTF

Ano da pesquisa
Idade
Homem
Mulher
Sri Lanka 2003 10 – 15 1.7 2.7
China 2009 6 – 12 15.5 14.5
Ilhas Maurício 2006 9 – 10 15.8 18.9
Índia 2007/8 2 – 17 20.6 18.3
Singapura 1993 10 25.5 17.6
Taiwan 2001 6 – 18 26.8 16.6
Austrália 2007 2 – 16 22 24
Nova Zelândia 2007 5 – 14 28.2 28.8

Fonte: IASO [9]

 

Na China continental, sua população equivale a um quinto da população mundial, a prevalência da obesidade vem aumentando rapidamente tanto com adultos quanto com crianças nas últimas duas décadas. Ao se usar os dados coletados para estimar o sobrepeso, uma meta-análise do sobrepeso estimado em 2% das crianças chinesas no início dos anos 1980, aumentou para 21% entre 2006 e 2010. A prevalência tendia a ser maior entre os meninos, e maior entre as crianças vivendo nas áreas urbanas [16].

África Subsaariana

Existem muito poucas pesquisas vindas dos países Africanos que podem apresentar os números da obesidade infância, como a maioria dos programas alimentares públicos de saúde focaram na subnutrição e nos problemas da segurança alimentar. A prevalência da obesidade infantil continua muito baixa nesta região, embora pareça estar crescendo em diversos países. Na África do Sul, a obesidade infantil está aumentando: a prevalência de sobrepeso (incluindo a obesidade) entre os jovens de 13 a 19 anos era menor que 20% em 2002, mas subiu para quase 26% em 2008, com as meninas mais significantemente com sobrepeso (36%) do que com os meninos (14%) [17].

 

As diferenças demográficas e as tendências seculares

Como já observado, as três últimas décadas notaram aumentos nunca vistos na prevalência da obesidade infantil. A América do Norte e alguns países da Europa apresentaram crescimento consistente na prevalência ano após ano, embora pesquisas recentes indicam que as tendências ascendentes estão abrandando, com os níveis de prevalência em um patamar desde 2005 [9].

 

Fig. 2: As tendências nos EUA, na Inglaterra e na França mostram o patamar aparente de sobrepeso/ obesidade em 2005

Inglaterra: crianças entre 5 e 17 anos, sobrepeso (incluindo a obesidade) definido pelos critérios da IOTF
França: crianças entre 5 e 17, sobrepeso (>85%) definido pelos critérios nacionais franceses
EUA: Crianças entre 6 e 11, obesidade (>95%) definido pelos critérios da CDC

prevalence-and-trends-across-the-world-2

Fonte: IASO [9]

 

 

Os dados de outras regiões, por exemplo a América Latina, indicam que esses países apresentam aumentos nas taxas maiores do que aquelas apresentadas na Europa Ocidental e na América do Norte [9].

 

Fig. 3: As tendências da prevalência de sobrepeso de oito países de renda baixa e média

O critério de sobrepeso definido pela IOTF (incluindo os obesos).

prevalence-and-trends-across-the-world-3

Fonte: IASO [9]

 

 

Pelo contrário, diversos países mostram apenas aumentos modestos. Como observado acima, a China apresentou um leve aumento na prevalência de sobrepeso entre as crianças dos meios rurais, mas apresentou um aumento expressivo entre as crianças das áreas urbanas. De modo interessante, um decréscimo na prevalência de crianças com sobrepeso fora observado na Rússia durante os anos 1990, um período no qual o país foi afetado por uma grande crise econômica [2].

 

Fatores raciais e étnicos

Nos EUA, os níveis da prevalência da obesidade infantil apresentam diferenças constantes entre os grupos étnicos pesquisados durante as últimas três décadas. Os jovens hispânicos e afro-caribenhos são mais suscetíveis a terem sobrepeso do que os jovens brancos: em 2008, cerca de 17% dos meninos brancos com idades entre os 12 e os 19 anos eram obesos (definido pelos limites norte-americanos) enquanto a taxa era de 20% entre as crianças afro-caribenhas e 27% entre os norte-americanos de origem mexicana. Para as meninas, o padrão era diferente, 15%, 29% e 17% obesas, respectivamente [18].

No Reino Unido, as garotas afro-caribenhas são mais suscetíveis a terem sobrepeso do que aquelas na população geral.

Os meninos indianos e paquistaneses eram mais suscetíveis a terem sobrepeso. Uma pesquisa com mais de 2.000 adolescentes com idades entre os 11 e os 14 anos em Londres relataram altos níveis de sobrepeso e de obesidade entre todos os grupos étnicos apreciados, com os mais altos níveis entre os homens indianos (36% com sobrepeso) e mulheres africanas negras (40% com sobrepeso) [19]. É improvável de que devido às diferenças econômicas como nenhuma associação entre o IMC e as medidas de situação socioeconômica foram alcançadas embora o grupo como um todo foram relativamente privados da comparação com a população geral do Reino Unido.

 

Fatores socioeconômicos

A análise das diferenças na distribuição dos casos de sobrepeso e de obesidade entre as crianças vindas de diferentes classes sociais (definido pelos níveis de renda da família ou dos níveis educacionais da principal fonte de renda, ou os índices locais de miséria) mostra um padrão complexo.

Nos países que não são economicamente desenvolvidos, ou são economias em desenvolvimento, os níveis de sobrepeso e de obesidade tendem a ser maiores entre as famílias com as maiores rendas ou maior nível de escolaridade. No Brasil, em 2005, 38% das crianças de 11 anos das famílias mais abastadas tinham sobrepeso ou eram obesas (na definição do OMS), em comparação com 26% das crianças das famílias de classe média e 20% das crianças das famílias de classe de renda mais baixa [20]. Na China há uma associação similar entre as crianças com sobrepeso, o nível de rendimento das famílias e o nível de escolarização [21]. Em uma análise de diversos países em desenvolvimento, os determinantes do risco de obesidade são: “situação socioeconômica alta, residentes nas cidades metropolitanas, sexo feminino, desconhecimento e falsas crenças quanto a nutrição, publicidade de empresas alimentícias transnacional, aumento de tensão acadêmica, e baixa qualidade dos recursos para a atividade física” [22].

Em contraste com muitos países economicamente desenvolvidos e industrializados, as crianças nos grupos socioeconômicos mais baixos tendem a mostrar altos níveis de prevalência de sobrepeso e obesidade. Nos EUA, a prevalência da obesidade entre as crianças nas famílias onde o chefe de família não possui um diploma de ensino médio, são de duas a três vezes maiores do que a prevalência entre as famílias onde o chefe de família possui um diploma universitário [23]. As tendências seculares mostram que em diversos países essas diferenças de classes sociais nos níveis de obesidade parece estar se ampliando [24].

A relação entre o sobrepeso infantil e a posição socioeconômica possui uma nuance maior nas economias desenvolvidas. Os países com maior nível de desigualdade social (medidos pela diferença entre as unidades familiares mais baixas e as mais altas nos termos de renda e de miséria) também apresenta um nível maior de obesidade infantil, independente do nível de riqueza média pelo PIB [25]. Quanto maior a desigualdade em um país, maior a prevalência da obesidade. Para os legisladores, a incapacidade de tratar a privação social relativa em toda a sociedade pode reduzir a eficácia das políticas para enfrentar a obesidade e promover o crescimento saudável da criança.

 

Referências

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