Traduzido ao Português no âmbito da iniciativa PerMondo (traduções gratuitas das páginas web e documentos para associações sem fins lucrativos). Projeto dirigido por Mondo Agit. Tradutor: Heitor Katlauskas Muraro. Revisor: Paulo Paz.
Marie-Laure Frelut | |
A Marie-Laure Frelut é pediatra e começou a tratar da obesidade infantil na década de 1990, quando dirigia uma unidade hospitalar dedicada a adolescentes extremamente obesos. |
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Prefácio
A obesidade sempre existiu, embora costumava ser bem rara em crianças. O problema surgiu quando o número de casos começou a aumentar drasticamente, primeiro nos países mais ricos e, desde então, por todo o mundo. Chegou-se à conclusão de que a obesidade reflete uma perda de adaptabilidade das pessoas ao ambiente. Tal conclusão surgiu como uma surpresa, pois acreditávamos que o ambiente já tivesse alcançado o seu limite quanto à qualidade, desde que a humanidade começou a interferir neste.
Poucos anos foram suficientes para notar que 80% das crianças obesas com cerca de 10 anos de idade teriam uma maior probabilidade de se tornarem adultos obesos. Apesar de tal alarmante situação, uma grande dúvida em como enfrentar a obesidade ainda persiste por dois motivos principais: esta condição é muito mais complexa do que pensávamos a princípio, e o nosso entendimento quanto à questão continua limitado. Essa complexidade se aplica às rotas subjacentes, tais como os cânceres, que variam entre os indivíduos, embora o mecanismo geral resulte sempre no consumo de energia que excede a energia gasta, levando ao seu armazenamento na forma de tecido adiposo. A ciência relacionada à obesidade nos apresentou uma quantidade significativa de descobertas fascinantes, não apenas de que o tecido adiposo é um órgão endócrino, e que a flora intestinal também é um órgão, e ambos interagem constantemente com o cérebro. A expressão genética é modificada desde a concepção através de mecanismos epigenéticos, por exemplo, por meio do ambiente nutricional, dos poluentes e da microbiota. Este processo tem início no útero, o que indica que a boa saúde também é dependente do estilo de vida da mãe, antes do nascimento da criança. A complexidade também se aplica aos diagnósticos, à gestão e à prevenção da obesidade clínica.
Os diagnósticos de obesidade não estão mais limitados ao índice de massa corporal maior do que o desejável. Muitas habilidades são exigidas para examinar adequadamente o indivíduo quanto ao seu histórico biológico, físico e psicológico para poder identificar complicações e assim propor um tratamento adequado.
Os programas atuais demonstram claramente que a obesidade infantil pode ser evitada. A capacidade cardiovascular, as funções físicas e a qualidade de vida podem ser nitidamente melhoradas. Existem diversas maneiras de alcançar esses objetivos. Já é tempo de parar com os programas experimentais básicos, exceto aqueles com aspectos não explorados, e atuar no mais alto nível possível. Deve-se investir na implementação de estratégias generalizadas de prevenção e de tratamento.
O Grupo Europeu de Obesidade Infantil (ECOG, do nome em inglês) foi fundado em 1990, no começo do problema com a obesidade infantil epidêmica, quando pediatras experientes perceberam que pequenos problemas estavam cobrindo uma grande ameaça. O grupo, presente na maioria dos países europeus, tem o intuito de permitir que médicos e pesquisadores de inúmeras áreas realizem encontros, debates e ações a fim de melhorarem o diagnóstico, a gestão e a prevenção da obesidade em crianças e adolescentes.
Este e-book, na sua primeira versão, foi dividido em 11 capítulos e 70 subcapítulos. Estes foram escritos e disponibilizados de graça pelos autores de 34 universidades europeias, pesquisadores, centros de pesquisa e organizações internacionais, inclusive a Organização Mundial da Saúde. Ligada a organizações comprometidas em combater este assunto delicado, consideramos ser o nosso dever divulgar o nosso conhecimento, segundo o Juramento de Hipócrates e a serviço da medicina e da ciência.
Uma atenção especial deve ser dada aos campos que normalmente não são abordados nos cursos sobre obesidade, mas fazem parte da “ciência da obesidade”, na nossa opinião . Somos muito gratos aos vários colegas que aceitaram com entusiasmo disseminarem os seus conhecimentos e as suas experiências.
A maioria dos capítulos contêm alguns gráficos para que o próprio leitor possa disseminar as devidas informações. Esperamos que começando pela Europa, este e-book se espalhe por todo o mundo e estimule um aumento nas conexões e nos intercâmbios de conhecimentos em benefício da saúde das crianças.
Em nome do ECOG,
A editora
Dra. Marie-Laure Frelut
Ex-presidente do ECOG